APLICAÇÃO DO CONCRETO DE ULTRA-ALTO DESEMPENHO NA CONSTRUÇÃO DE PONTES DE CONCRETO PROTENDIDO
APLICAÇÃO DO CONCRETO DE ULTRA-ALTO DESEMPENHO NA CONSTRUÇÃO DE PONTES DE CONCRETO PROTENDIDO
Autores:
Ana Lúcia Ferreira Ramos; Bruno Fiszuk Borges; Giovani Fonseca Ferreira; Laura
Cerruti; José Américo Alves Salvador Filho; Silvete Mari Soares.
Introdução
O concreto de ultra-alto desempenho (CUAD)
ou Ultra-high Performance Concrete (UHPC) é, segundo Viana et al. (2018), um
material à base de cimento que apresenta resistência à compressão superior a
150 MPa e que possui propriedades mecânicas e de durabilidade superiores quando
comparadas aos concretos de alto desempenho e aos concretos convencionais.
De acordo com Massa Cinzenta (2017), o
concreto de ultra-alto desempenho foi desenvolvido nos anos 1990 como encomenda
da engenharia militar para a construção de pontes pré-fabricadas com elementos
esbeltos e é constituído por Cimento Portland, sílica-ativa, pó de quartzo,
agregados miúdos, aditivos superplastificantes, pequenas quantidades de água e
microfibras de aço, podendo alcançar resistências de 800 MPa.
Apesar de seus diversos benefícios, o uso
do UHPC na construção civil ainda não foi muito difundido, principalmente em
países em desenvolvimento como o Brasil, pois, conforme Abbas, Nehdi e Saleem
(2016), mesmo trazendo uma economia posterior em função da redução das seções
transversais dos membros estruturais com economia de materiais associados e
menores custos de instalação e mão de obra, possui um custo inicial
relativamente alto.
O concreto de ultra-alto desempenho é
utilizado em elementos arquitetônicos, como painéis de fachada, ou em elementos
estruturais, como tabuleiros de pontes e em edifícios. Outra das aplicações do
UHPC é em ambientes com elevada agressividade, nos quais a performance de
durabilidade do material é um requisito imperativo. (TECNOSIL, c2021). O
presente trabalho irá analisar a utilização do concreto de ultra-alto
desempenho na construção de pontes de concreto protendido.
O
uso do UHPC nas pontes protendidas
Segundo Graybeal et al. (2020), o UHPC tem
potencial para atender uma variedade de necessidades de projeto, construção e
melhoria de desempenho de pontes, adotando soluções inovadoras para enfrentar
desafios relacionados ao custo, velocidade de construção, durabilidade e vida
útil dos projetos.
A primeira aplicação estrutural do
concreto de ultra-alto desempenho foi na ponte pedonal híbrida protendida em
Sherbrooke, no Canadá, construída em 1997, que inclui uma treliça UHPC de
espaço aberto pós-tensionada com 4 vãos de acesso em concreto convencional de
alto desempenho. Foi adotada uma laje nervurada com espessura de 30 mm e
aplicada uma protensão transversal. O comprimento total do vão da ponte era de
60 m, e o vão principal foi montado a partir de seis segmentos pré-fabricados
de 10 m de fundição combinada (YOO, D.; YOON, Y., 2016).
Também de acordo com Yoo e Yoon (2016), a
passarela Seonyu, concluída em 2002 em Seul, na Coreia do Sul, é atualmente a
ponte pedonal mais longa feita pelo UHPC com vão único de 120 m sem apoio
central. A ponte consiste em um arco que suporta uma laje nervurada de UHPC com
30 mm de espessura com protensão transversal. Com capacidade de carga e
propriedades de resistência equivalentes, a ponte precisava de apenas metade da
quantidade de materiais necessários para a construção de concreto convencional.
Já em relação as pontes rodoviárias,
conforme Yoo e Yoon (2016), a primeira foi construída em Iowa, nos EUA,
denominada ponte Mars Hill. É uma ponte simples de um vão consistindo de três
vigas de concreto pré-moldado e protendido com um comprimento de 33,5 m e
tabuleiro de concreto moldado no local. Nenhum estribo foi aplicado e cada viga
inclui 47 fios de protensão de baixa relaxação com um diâmetro de 15,2 mm.
Outros exemplos de pontes de UHPC
protendido podem ser analisadas na tabela abaixo.
Tabela
1 - Exemplos de aplicações de UHPC em pontes e passarelas em todo o mundo.
Fonte: Abbas, Nehdi e Saleem (2016).
|
Estruturas/aplicações |
Localização |
Ano
de conclusão/produção |
Força
compressiva (MPa) |
Resistência
à flexão (MPa) |
|
Ponte
pedonal Sherbrooke |
Sheerbroke,
Canadá |
1997 |
200 |
40 |
|
Passarela
Seonyu |
Seul,
Coréia |
2002 |
180 |
32 |
|
Passarela
Sakata Mirai |
Sakata,
Japão |
2002 |
238 |
40 |
|
Shepherds
Creek Bridge |
Sydney,
Austrália |
2008 |
180 |
- |
|
Passarela
papatoetoe |
Auckland,
Nova Zelândia |
2006 |
160 |
30 |
|
Ponte
Glenmore/Legsby |
Calgary,
Canadá |
2007 |
- |
- |
|
Ponte
Gaertnerplatz |
Kassel,
Alemanha |
2007 |
150 |
35 |
|
Ponte
de viga UHPC |
Iowa,
EUA |
2008 |
150 |
- |
|
Ponte
Whiteman Creek |
Brantford,
Canadá |
2011 |
140 |
30 |
|
Passarela
de treliça UHPC |
Espanha |
2012 |
50 |
- |
Conclusão
O UHPC provou ser uma solução atraente que
atende as mais diversas necessidades do setor de pontes em todo o mundo. A
engenharia e a construção de pontes estão maduras e relativamente estáveis, mas
enfrentam desafios significativos como a expectativa do público de que as
pontes possam ser construídas rapidamente, com impacto mínimo para os usuários
e para a região e que durem quase que indefinidamente, sem a necessidade de
manutenção significativa. O UHPC, com suas propriedades mecânicas e de
durabilidade únicas, que excedem em diversos aspectos as características vistas
em concreto convencional, cria oportunidades para novos projetos estruturais e
soluções robustas de restauração estrutural.
Outro desafio atenue na decisão pela
utilização do UHPC é o custo de execução. Tendo em vista o comparativo com um
material tradicional, os testes com UHPC mostram que devida a sua alta
resistência, pode-se ter um tempo de vida útil mais prolongado, além de alguns
materiais componentes serem ecologicamente mais sustentáveis do que o de
concreto tradicional. Estas vantagens acabam por pesar na escolha em qual
concreto utilizar, tendo em vista também que as necessidades de manutenções
periódicas com o UHPC são menores do que com o concreto tradicional.
Referências
Bibliográficas
1. ABBAS, S.; NEHDI, M. L.; SALEEM, M. A..
Ultra-High Performance Concrete: mechanical performance, durability,
sustainability and implementation challenges. Internacional Journal of Concrete Structures and Materials, v.10,
n. 3, p. 271-295, Setembro 2016. Springer Science and Business Media LLC.
http://dx.doi.org/10.1007/s40069-016-0157-4.
2. GRAYBEAL, B.; BRÜHWILER, E.; KIM, B.;
TOUTLEMONDE, F.; VOO, Y. L.; ZAGHI, A. International Perspective on UHPC in
Bridge Engineering. Journal of Bridge
Engineering, v. 25, n. 11, Novembro 2020.
https://doi.org/10.1061/(ASCE)BE.1943-5592.0001630.
3. MASSA CINZENTA; Cimento Itambé. Quais obras usam concreto de ultra-alto
desempenho?. 2017. Disponível em:
https://www.cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta/quais-obras-usam-concreto-de-ultra-alto-desempenho/.
Aberto em: 15 nov 2021.
4. TECNOSIL. Concreto UHPC: O que é e por que esse concreto deveria ser
mais utilizado no Brasil?. c2021. Disponível em: https://www.tecnosilbr.com.br/uhpc-o-que-e-e-por-que-esse-concreto-deveria-ser-mais-utilizado-no-brasil/.
Aberto em: 15 nov 2021.
5. VIANA, T. M.; ANDRADE, R. C.; SALLES,
P. V.; AZEVEDO, R. C.; LUDVIG, P. Aspectos de durabilidade de concretos de
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https://seer.dppg.cefetmg.br/index.php/revista-et/article/view/915. Aberto em:
15 nov 2021.
6. YOO, D.; YOON, Y. A Review on
Structural Behavior, Design, and Application of Ultra-High-Performance
Fiber-Reinforced Concrete. International
Journal of Concrete Structures and Materials, v.10, n. 2, p. 125-143, Junho
2016. https://doi.org/10.1007/S40069-016-0143-X.


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