Considerações fundamentais para a combinação granulométrica ideal para os agregados dos materiais de engenharia.
Considerações fundamentais para a combinação granulométrica ideal para os agregados dos materiais de engenharia.
Autor:
Luís
Mateus Genova, Ruan Larisson Toninatto Vilela e Denis bek Arruda.
Compacidade
é a qualidade daquilo que é compacto. Ou melhor dizendo, um valor que representa
o quão o material está compacto, ou, também, a proporção de sólidos contidos em
certo volume de material granuloso.
Muitos
materiais de engenharia como concreto e argamassa contém uma combinação de
materiais granulosos minerais, geralmente brita e areia, que são colados uns
nos outros com cimentos ou resinas, e que, quando melhor combinados seus
tamanhos, geram uma melhor compacidade do material final. Tais materiais
granulosos que são denominados agregados, e seus ligantes denominados
aglomerantes.
Os
agregados tem seu tamanho máximo
definido por questões de facilidade de trabalhar, e também caber em seus
moldes, passando fácil pelas armaduras de aço, etc. e pelas formas estreitas
sem muito atrito. Ou seja, para se moldar uma peça de 2cm de espessura, não
posso utilizar um agregado com dimensão superior a tal, inclusive deve ser um
tanto inferior para que se consiga preencher bem a forma.
Algumas
normas, em casos específicos, recomendam valores até bem menores que a dimensão
total do produto para que o agregado possa atravessar pequenos espaços e
obstáculos dentro do produto, e que faça isso com facilidade, sem ser retido,
e, portanto, formando poros indesejados nas peças. É o caso do graute que se
recomenda agregados muito inferiores ao espaço, por questões de ser lançado de
uma grande altura, necessitando uma alta fluidez (Mohamad, 2020). Ou no caso da
produção de peças de blocos de concreto que na norma limita ao valor máximo do
agregado de metade da espessura das paredes do bloco (ABNT NBR 6136:2016).
Se
utilizássemos só um tamanho de agregado em um material sem ligante, sua
compacidade seria a mesma em diferentes escalas. Tanto para 1 quanto para 10cm,
por exemplo. Por isso ao definir uma boa combinação, com diferentes tipos, também podemos escalar isso quando
necessário.
É
entendido que ao combinar diferentes tipos de tamanhos de agregados pode se
gerar uma melhor compacidade, veja a Figura 1, abaixo.
Figura 1: Distribuição granulométrica
e o volume de vazios (adaptado de PCA, 2003).
Embora
fosse o melhor possível, seria de baixo custo-benefício e improdutivo, portanto,
inviável combinar muitos tipos diferentes de agregados. Portanto, se limita as combinações em 2 tipos ou um
pouco mais para obter o melhor custo-benefício.
Muitos
fatores também interferem na melhor combinação possível, alguns exemplos são: a
média do tamanho dos agregados a serem combinados; a distribuição
granulométrica dessa média, ou seja, seu desvio padrão; a forma dos agregados
ou índice de forma (Figura 3(b)), mais redondos ou achatados; seu comportamento
e facilidade de misturar homogeneamente com seus ligantes, como materiais
cimentícios ou resinas.
Por
isso a variação da distribuição granulométrica da faixa de agregados que se
está utilizando pode interferir na melhor compacidade. Veja um exemplo de
distribuição granulométrica na Figura 2, abaixo. A imagem de um ensaio para
definir essa composição, junto com um exemplo de forma do agregado é
apresentado na sequência, na Figura 3(a) e 3(b) respectivamente.
Figura 2: Distribuição granulométrica (a)
discreta e (b) acumulada dos agregados (adaptado de Bauer, 2019).
Figura 3: (a) Sequência de peneiras
no ensaio de peneiramento; (b) dimensão da partícula que fica retida na peneira
(adaptado de Kwan et al., 1999).
Uma
distribuição granulométrica contínua das partículas pode atrapalhar a
compacidade dificultando movimento entre umas e outras, causando o denominado
“efeito parede”. Assim deve haver granulometrias descontínuas, com ausência de
determinados tamanhos de partículas, facilitando a mobilidade do conjunto, que
é alcançado quanto partículas de tamanho superior e inferior possuem uma razão
de 10 entre elas (Oliveira, 2000). Nota-se na Figura 4, que a partir da razão
de 10 já se garante a melhor compacidade e eliminado o efeito parede.
Figura 4: Influência do tamanho das
partículas na densidade relativa de empacotamento (adaptado de Oliveira, 2000).
Isso
corrobora estudos antigos como de Feret (1892) que também obteve melhor
compacidade quando utilizou combinações de areias com razão de 10.
Feret
(1892) que estudou uma mistura de agregados de areia grossa (5 a 2mm), média (2
a 0.5mm) e fina (inferior a 0.5mm) para argamassas, e obteve o melhor resultado
de compacidade de 0,734 com a quantidade de 80% de areia grossa e 20% de areias
fina, sendo dispensado o uso da areia média para melhor compacidade dessa
combinação.
Estudos
recentes com três combinações diferentes de tamanhos de partículas foram feitos
por Ramos et al. (2015) para um material aglomerado com resina, que obteve
experimentalmente em seu material a melhor compactação com tamanhos grande (7 a
12mm), médio (2 a 4mm), e fino (0.3 a 1.2mm) utilizando, de 30%, 20% e 50%
respectivamente.
Também,
para um compósito com resina Lovo et al. (2018) traçou um diagrama da melhor
compactação com 3 faixas de valores, grande (1.2 a 2mm), médio (0.3 a 0.6mm) e
fino (0.1 a 0.2mm) utilizando teores dos mesmos, de 50%, 15% e 35%
respectivamente. O resultado foi obtido realizando 66 misturas, seguindo as
ABNT NBR 12173 e ABNT NBR 248, o resultado de diferentes misturas pode ser
visualizado no diagrama ternário na Figura 5.
Figura 5: Diagrama ternário da relação da
densidade e as 3 combinações de granulometria (adaptado de Lovo et al. 2018).
É
interessante perceber que nos dois últimos estudos citados, ambos pesquisadores
deram uma folga entre uma faixa de tamanho e outro para melhor movimentação das
partículas.
Por
fim, para diversos materiais de engenharia, tanto quanto utilizados
aglomerantes poliméricos ou cimentícios, em geral os agregados possuem
resistência superior ao da cola, seja de cimento ou resina. Portanto, em geral
é importante a melhor compacidade possível para a maior quantidade possível de
agregado no compósito.
CONCLUSÃO
Como
discutido, encontrar a melhor combinação granulométrica para os materiais de
engenharia não é uma tarefa fácil. Porque inclusive não depende só da
combinação dos mesmos para garantir melhor compacidade do compósito, mas também
de como ele se movimenta com os aglomerantes adicionados. Para o próprio
concreto, um dos materiais mais utilizados na construção existem vários métodos
de sua dosagem, não havendo consenso em qual seria mais apropriada já que
depende de inúmeros fatores.
Contudo,
alguns princípios e parâmetros importantes foram discutidos acima que podem dar
dicas em materiais de situações similares. Mas se recomenda que para cada
compósito específico se aprofunde na literatura específica do mesmo para
identificar os principais fatores que interferem em cada caso.
Referências
bibliográficas
ABNT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 12173: “Fine-grained
refractory materials -determination bulk specific gravity”. Rio de Janeiro,
2012.
ABNT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 248: “aggregate materials
-determination bulk composition”. Rio de Janeiro, 2003.
ABNT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6136: “Blocos vazados de
concreto simples para alvernaria - Requisitos”. Rio de Janeiro, 2016.
FALCÃO BAUER, L. A. Materiais de Construção. ed. 6. vol 1. LTC: Rio de janeiro, 2019.
FERET, R. Sur la compacité des mortiers
hydrauliques. Anmales Ponts et Chaussées, 7. Serie, IV, n. 21, 1892.
KWAN, A. K. H. et al. Particle shape analysis
of coarse aggregate using Digital Image Processing. Cement and Concrete Research, v. 29, 1999.
LOVO, F. P. et al. Synthetic granite
composite for precision equipment structures. Matéria (Rio de Janeiro), v. 23, n. 4, 2018.
MOHAMAD, G. Construções em alvenaria estrutural: Materiais, projeto e
desempenho. 2. ed. Ampliada e revisada conforme a NBR 16868/2020. São Paulo:
Blucher, 2020.
OLIVEIRA, I. R.; STUDART, A. R.; PILEGGI,
R. G.; PANDOLFELLI, V.C. Dispersão e
empacotamento de partículas: princípios e aplicações em processamento cerâmico.
São Pualo: Fazendo Arte Editorial, 2000.
PORTLAND CEMENT ASSOCIATION (PCA), 2003. Aggregates for concrete. In: Design and
control of concrete mixes. 14. Ed. Illinois: PCA, 2003, p. 79-103.
RAMOS, D. T. L., PALLONE, E. M. J. A.,
PURQUERIO, B. M. et al, “Design and construction of a pin-on-disc bench for
wear testing”, Cerâmica, v. 60, n.
355, pp. 443-448, Jul. 2014.






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